E ao anoitecer...!

Anoitecer - Carlos Drummond de Andrade






É a hora em que o sino toca, 
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas, 
sirenes roucas, apitos 
aflitos, pungentes, trágicos, 
uivando escuro segredo; desta hora tenho medo
 



É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz — morte — mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.


Hora de delicadeza,
agasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.

Poema ANOITECER - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE




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